Somos todos judeus alemães!
Somos todos árabes palestinos!
Grito da juventude da Insurreição de Maio de 1968, na França.
Efetivamente, estamos em tempos macabros em várias esferas da vida. Inclusive na intelectual. Assistimos a um momento em que o acúmulo do conhecimento de pesquisas vem sendo orgulhosamente desprezado a favor de ideias lunáticas. Falácias ideológicas que se firmam na insistência de espaços obscuros e sem preocupação com os fatos. Quanto mais histeria, mais ganha força; aquilo que era bizarro passa a ser emblema. Já vimos algo assim antes eclodindo há 85 anos.
Chegamos em um momento em que cresce o número de pessoas acreditando veementemente que a Terra é plana e que há uma conspiração “globalista” de George Soros para implantar o socialismo no mundo todo. O projeto conservador “Escola sem Partido” avança, o que colocará em risco não apenas o fomento ao pensamento crítico dos alunos, mas também o ensino das ciências, como é o caso da teoria da evolução. Dentre coisas semelhantes, neste contexto, de forma aterradora emerge a ideia de que o “nazismo é de esquerda”.
Esta ideia se apresenta com variadas falácias; atira-se pra todo lado enlouquecidamente. Uma delas é um silogismo muito esquisito: a esquerda, por se solidarizar com o sofrimento dos palestinos, odeia Israel e a direita é pró-Israel; o nazismo exterminava judeus, logo o nazismo é de esquerda.
Fica-se numa situação difícil, num dilema entre elucidar devidamente a desinformação causada por essas falácias, sem dar palanque e aparentar levar a sério; ou, por omissão, ignorar que elas surgem justamente como sintomas da atual onda de ignorância, a qual pode ser o prelúdio para momentos ainda mais aterradores… O clima favorece. Portanto, é necessário colocar as coisas em seu devido lugar.
Tentaremos aqui esclarecer fatos básicos sobre Israel e Palestina, do porquê da esquerda ser crítica do Estado de Israel, por que isso não é antissemitismo e por que quem distorce esse posicionamento, relacionando-o com nazismo, está usando de desonestidade, a qual inclusive pode prejudicar a própria direita que também é solidária à Questão Palestina. Isso não significa que encaramos suas “teses” como algo relevante e merecedor de ser debatido; contudo, é importante deixar claro por que tais asneiras, usadas como estratégia retórica para confundir os desavisados, sequer são imaginadas na discussão do mundo especializado, adulto.
Seguem os 9 motivos que invalidam a falácia de que a esquerda tem ligação com o nazismo por se opor ao Estado de Israel e que deixam claro que quem usa tal “argumento” são pessoas sem noção ou que agem de má-fé.
1 A direita também pode ser a favor da Questão Palestina

Parlamento inglês reconhece o Estado Palestino em 13 de outubro de 2014, com 274 votos a favor e 12 contra. Apenas 6 de 48 parlamentares do partido conservador votaram contra.
Discutir a Questão Palestina baseando-se em falsas dicotomias, como se quem fosse a favor dela automaticamente é contra Israel, logo é nazista, é o cúmulo da desonestidade intelectual e ainda torna contraditória a direita que faz esse tipo de declaração, revelando sua profunda ignorância ou cinismo.
Tomemos como exemplo o parlamento britânico e sua votação sobre o reconhecimento do Estado Palestino, em 2014. Dos 47 parlamentares do Partido Conservador, de direita, 41 deles votaram a favor do Estado Palestino, apenas 6 deles votaram contra [1]. O Partido Conservador inglês é nazista por conta disso?
Entre os anos 1940 e 1960, a direita estadunidense era fortemente pró Palestina. A editora Regnery Publishing, fundada pelo conservador Henry Regnery especializou-se na época na publicação de obras anti-Israel de intelectuais liberais e conservadores, inclusive do Partido Republicano [2].
Mesmo hoje nos EUA existem conservadores a favor da causa palestina, como nos relata o jornalista Philip Weiss (ele próprio judeu) em seu artigo sobre a cúpula National Summit to Re-Assess the U.S.-Israel Special Relationship (Cúpula Nacional de Reavaliação do Relacionamento Especial entre Estados Unidos e Israel, numa tradução livre) ocorrida em 2014, na qual presenciou a preocupação da maioria dos conservadores presentes com os Direitos Humanos na Palestina [3].
A questão israeli-palestina não é um jogo cujas regras são pensar em termos de escolher entre grupos raciais, étnicos ou religiosos em detrimento do(s) outros(s). Não é questão “de quem você gosta mais, de árabes ou de judeus?”. Ou de luta judaísmo/cristianismo vs islamismo. Decerto, um compromisso intelectual e moral com a justiça para os palestinos não é monopólio de esquerdas.
Pessoas de centro e de direita conservadora ou liberal podem igualmente tomar posição crítica contra a espoliação e injustiça cometida historicamente e atualmente pelo sionismo e clamar pela Palestina. Até porque os palestinos devem ter o direito de soberania e poder livremente deliberar sobre a direção política de um governo em uma estrutura política com plenitude de direitos civis, econômicos, sociais, políticos e ambientais.
Há boa parte dentre os judeus que quer justiça para a Palestina. Por outro lado, existem extremismos de direita que não gostam de judeus, mas se posicionam por Israel e são anti-Palestina. Em seu imaginário, Israel representaria o orgulho do Ocidente contra o Oriente; também, teriam um pretexto assim para não quererem judeus em seus países, para os mandarem embora para Israel. Uma ilustração emblemática desta posição pode ser vista na postura do terrorista de direita Anders Breivik, que escreveu em seu manifesto sobre o quanto gosta de judeus:
“Não existe um problema judaico na Europa Ocidental (com exceção do Reino Unido e da França), pois temos apenas 1 milhão [de judeus] na Europa Ocidental, enquanto 800 mil desse 1 milhão vivem na França e no Reino Unido. Os EUA, por outro lado, com mais de 6 milhões de judeus (600% a mais que a Europa) têm realmente um considerável problema judaico”[4].
2 Judeus também podem ser críticos do Estado de Israel

As vertentes básicas do sionismo eram: sionismo político, cultural (subdividido também na espiritual) e trabalhista. Destas, justamente a “espiritual” foi a primeira a produzir escritos críticos sobre o que estava sucedendo na Palestina.
O escritor, jornalista e doutor em filosofia alemão Karl Marx, ele próprio de ascendência judaica, se posicionou criticamente contra outro intelectual contemporâneo, Bruno Bauer, que impelia os judeus a se organizarem politicamente para sua emancipação. Marx defendeu a ideia de que a questão primeira para os judeus não era constituir um Estado-nação próprio, mas se aliarem enquanto classe trabalhadora com os demais operários para uma nova sociedade sem demarcações de tal gênero. Para ele, a “questão judaica” era marcada por um fundo e tônica de problemas sociais[5].
Alguns poderão alegar que o exemplo de Marx não vale por ele ser do século XIX, que os tempos mudaram. Todavia, o que não falta nos dias atuais são judeus e organizações judias críticas do Estado de Israel e a favor da causa Palestina. Nos EUA, entre os judeus a favor da causa Palestina se encontra o Peter Weiss, jornalista do The New York Times Magazine, antissionista declarado e criador do site de notícias Mondoweiss, dedicado a cobrir a política externa estadunidense no Oriente Médio sob uma visão progressista judaica e pró-Palestina.
Outro exemplo emblemático é no próprio Israel. Gideon Levy, membro do corpo editorial da revista israelense Ha’aretz, ex-conselheiro do presidente Shimon Peres (entre 1978 e 1982), responsável pela cobertura jornalística semanal, há 25 anos, da rotina de domínio israelense na Cisjordânia e Gaza. Foi também correspondente de Guerra em Sarajevo durante a “Guerra dos Balcãs”. Já recebeu prêmios e condecorações, entre eles da Associação para os Direitos Humanos em Israel e da União dos Jornalistas Israelenses, constantemente difamado pela extrema-direita do país, bem como monitorado por ela[6].
No Reino Unido existe uma organização chamada Judeus pela Justiça na Palestina, formada tanto por judeus sionistas como não sionistas, de inspiração liberal política e que defende os direitos humanos, direitos civis, liberdade política e autodeterminação econômica para os palestinos[7].
Mas talvez esses exemplos não sejam suficientes para você. Afinal, Marx era um socialista e os exemplos atuais de judeus e organizações judias citadas são todos progressistas, estão faltando judeus conservadores, de direita raiz nos exemplos, certo? E se eu dissesse que existem até judeus ultra-ortodoxos a favor da causa Palestina? Sim, do outro lado do espectro político, bem no extremo, judeus também podem ser críticos do Estado de Israel. É o caso do israelense Moshe Gafni, político conservador e líder do partido ultra-ortodoxo Yahadut Hatorah Hameuḥedet (algo como Judaísmo Unificado do Torá). Moshe chegou a declarar que “Israel não tem o direito de negociar com os palestinos porque eles [palestinos] já estavam aqui antes e os judeus os expulsaram de suas terras”[8].
E aí? Seriam os próprios judeus, de esquerda ou de direita, sionistas ou antissionistas, moderados ou ortodoxos, liberais ou conservadores, todos eles nazistas pelo seu posicionamento crítico em relação ao Estado de Israel, como afirma a nossa direita, guiada pela sua “lógica” binária?
3 O Estado de Israel também teve o apoio da esquerda

Um fato pouco conhecido é sobre o papel de Stalin — sim, ele próprio —, referência histórica da esquerda autoritária, na criação do Estado de Israel. Sua articulação pró-Israel nas vésperas e durante a Assembleia da ONU foi decisiva para a concretização de um Estado israelense e indo além, inclusive provendo armas da URSS e da então Checoslováquia para o exército israelense combater a resistência árabe. Ou seja, sem o apoio da URSS, o Estado de Israel simplesmente não existiria[9].
Até muitas décadas após a fatídica criação do Estado de Israel e a Nakba, boa parte da esquerda mundial era pró-sionista, encampando os discursos utópicos de esquerda que ali se vendia como cortina de fumaça. O filósofo Jean Paul Sartre, fervorosamente pró-sionismo, foi um dos exemplos — exposto no ensaio “Meu encontro com Sartre”, de Edward Said[10].
Na época, a esquerda ignorava o racha ocorrido no Mapam, o partido socialista sionista, quando sua ala moderada deu origem ao Mapai, o qual se tornou um partido moderado reformista e, assim, não se atentou ao alerta do líder do Mapam, Ya’acov Hazan, o qual dizia que “o roubo, o assassinato, a expulsão e o estupro dos árabes podem assumir tais proporções que não teríamos condições de fazer parte de uma coalizão com o Mapai e Ben-Gurion”.
Ou quando se desvelou a aliança da Autoridade Judaica com as organizações terroristas Lehi e Irgun, bem como as ações terroristas da Haganah, uma organização que no princípio era uma associação de trabalhadores. Aharon Cohen, diretor do Departamento Árabe do Mapam, já denunciava que “vem ocorrendo uma expulsão deliberada dos árabes. (…) Outros poderão se regozijar com isto — mas eu, como socialista, sinto-me envergonhado e temeroso”. “(…) está havendo uma transferência dos árabes da área do Estado judaico — tendo em vista certos objetivos políticos, e não apenas por necessidade militar”[11].
Por essa razão, mais precisamente a partir dos anos 1960, a esquerda passou a se preocupar com a Questão Palestina e a ter um posicionamento mais crítico em relação ao Estado de Israel. Concomitantemente, a direita dos EUA, antes a favor dos palestinos, passa a apoiar o Estado israelense, entre outro motivos, por ter sido convencida por intelectuais conservadores, como Leo Strauss, o qual dizia que Israel era uma parte do Ocidente no Oriente Médio[2].
4 Sequer os sionistas defendiam um Estado de Israel necessariamente na Palestina

Tanto o sionismo político quanto o trabalhista eram predominantemente laicos; não primavam por reconstituir o Israel mítico na Palestina, mas sim discutia-se sobre a possibilidade de um Estado judeu existir na Argentina ou nordeste africano. A primeira corrente a preponderar foi a do sionismo político, chefiada por Theordor Herzl, que dissera: “Vamos escolher a Palestina ou a Argentina? Devemos aceitar o que nos for dado, e o que for selecionado pela opinião pública judaica”[12].
No começo do século XX, o VI Congresso Sionista debateu a ideia de se estabelecer um Estado israelense no leste africano, sendo em Uganda o local mais provável.
Logo depois, na disputa pela Autoridade Judaica na Palestina, o sionismo político foi suplantado pelo campo “Avodah”, que eram sionistas socialistas mais ou menos divididos entre trabalhistas e auto-gestores. Dali saíram a liderança de Ben Gurion e o partido Mapam, todos predominantemente laicos/agnósticos[13].
5 Os primeiros governos do Estado de Israel foram de esquerda

Em 1948, durante a guerra Guerra Árabe-Israelense, Israel era liderada pelo socialista David Ben-Gurion, tornando-se o primeiro-ministro de um governo provisório de Israel em 25 de janeiro do mesmo ano[14]. Logo após a vitória das Forças de Defesa de Israel contra os exércitos árabes (lembremos aqui que a ajuda da URSS e da Tchecoslováquia foi essencial no suprimento de armas e veículos de guerra), em 14 de maio, foi proclamado o Estado de Israel, oficializando sua existência[15].
No ano seguinte, em 8 de março, foi composto o primeiro governo oficial de Israel, o Knesset, uma democracia parlamentar, formada por 120 membros[16]. Ben-Gurion se tornou mais uma vez primeiro-ministro, desta vez do primeiro Knesset, e seu partido Mapai (Mifleget Poalei Eretz Yisrael ou Partido dos Trabalhadores do Estado de Israel), de centro-esquerda[17], elegeu 46 parlamentares, ocupando proporcionalmente a maioria das cadeiras. O segundo partido mais votado foi o Mapam (Mifleget HaPoalim HaMeuhedet ou Partido Unido dos Trabalhadores), um partido trabalhista de esquerda, de inspiração marxista-leninista e alinhado à URSS[18], que ficou com 19 cadeiras[19].
A esquerda israelense ainda participaria ininterruptamente das coalizões de governo por quase 3 décadas, possibilitando a consolidação das bases das políticas sociais do Estado israelense, quando então o partido Mapai se tornou o centrista Partido Trabalhista. A esquerda deixou a participação no governo de Israel apenas em 1977, no nono Knesset, quando foi eleito para primeiro-ministro (de histórico terrorista) Menachem Begin do Likud[20], partido de direita, cujas origens têm ligação direta com a organização terrorista Irgun[21].
6 A direita brasileira que acusa a esquerda de “odiar Israel” é conspiratória como os nazistas

Um dado curioso sobre a direita brasileira que acusa a esquerda de odiar Israel é que ela também é uma das principais fontes no Brasil de teorias conspiratórias, aproveitando-se de tempos instáveis para propagar leituras bizarras da realidade. O clima atual, combinando agitação com histeria coletiva, também ajuda a criar um terreno fértil para seus absurdos, como ocorre hoje no Brasil.
É o caso de uma figura um tanto sem noção e assumidamente obscurantista chamada Flávio Morgenstern, que encontrou espaço e aceitação em grupos de extrema direita. Ele é autor de um livro no mínimo estranho, com o qual advoga que as manifestações puxadas em 2013 faziam parte de uma conspiração envolvendo o Movimento Passe Livre, o qual seria impelido pelo PT, pelas FARC, pelos movimentos dos Direitos Humanos, e pelos Black Blocs. O delírio vai além, e o sujeito chega a afirmar que o Daesh — vulgarmente conhecido “Estado Islâmico” — também estaria envolvido nessa conspiração, tudo para implantar um totalitarismo “globalista comunista” através de uma situação política não administrável, com o objetivo de destruir a religião cristã e a “instituição família”[22].
Entre a direita brasileira, outra teoria da conspiração que se tornou praticamente um senso comum é a de que o financista George Soros é um globalista que financia a esquerda no mundo todo. Baseado no que dizem isso? “Ora, se Soros é um liberal econômico culturalmente progressista e pró-direitos civis, que apoia democratas e grupos comprometidos com a preservação da democracia burguesa, então ele é de esquerda.” Parte da direita brasileira, incapaz de largar o binarismo político e o anti-comunismo tosco, não consegue compreender o bipartidarismo dos EUA entre conservadores e liberais (leia mais sobre isso aqui), no qual a esquerda socialista fica marginalizada, de representatividade praticamente nula nas disputas políticas, cabendo aos liberais o papel de representar a esquerda, que é o caso do Partido Democrata. Contudo isso não torna os democratas socialistas, tampouco Soros, que costuma fazer doações generosas ao partido[23].
Desnecessário o fato de que Soros é declaradamente um liberal, e profundamente influenciado pela filosofia do também liberal Karl Popper[24]; desprezível o empenho de Soros no combate ao autoritarismo no leste europeu, inclusive ao do socialismo real nos anos 1980, mostrando-se infrutífero, aliás, pois suas organizações por lá instaladas já possuem fama de ideológicas e sofrem resistência local, sendo a instalada na Rússia já banida; irrelevante que ele, como judeu, quer evitar a ascensão da extrema-direita apoiando os democratas e financiando grupos comprometidos com a democracia burguesa, desta forma quase profetizando o envolvimento de republicanos com neonazistas, como ficou escancarado na manifestação Unite the Right em Charlottesville.
Para a direita conspiratória, nada disso importa, nada tira de sua cabeça que Soros é um esquerdista que quer implantar o socialismo mundial por meio de sua rede de fundações Open Society. Essa demonização de Soros também se explica por seu posicionamento a favor dos movimentos LGBT e de minorias (Na mesma perspectiva de outro liberal como Mario Vargas Llosa), algo inadmissível para o conservadorismo de linha brucutu dessa direita, cujos devaneios ganham espaço até na grande mídia, como é o caso de Felipe Moura Brasil na revista Veja e de Alan Gahni na Infomoney.
Evidentemente que tantas paranoias não surgem espontaneamente, elas partem de centros de produção e são geralmente concebidas por gurus conservadores, como o autointitulado filósofo Olavo de Carvallho e o filósofo inglês Roger Scruton, que investem em teorias conspiratórias como a da Nova Ordem Mundial, do Globalismo, do Marxismo Cultural, do Socialismo Fabiano e até sobre a “farsa do aquecimento global”. Ambos estão muito bem acomodados para “filosofar” sobre esses temas, o primeiro morando em Virgínia, nos EUA, onde tem como hobby perturbar a vida de ursos e sendo bancado por seus seguidores; o segundo debaixo das saias da monarquia inglesa.
Pois bem, todos os nomes aqui citados, além de adeptos de teorias conspiratórias, investem também na narrativa de que a esquerda odeia Israel, logo é nazista ou está identificada com o nazismo. Inclusive, Mogerstern — devido à manifestação Unite the Right em Charlottsville, nos EUA, na qual supremacistas brancos, neonazistas, confederados, republicanos e “anarcocapitalistas” [sic] se reuniram, deixando claro para o mundo todo que nazismo é de direita —, tentou reverter o estrago causado pela repercussão desse evento na sustentação da falácia “nazismo é de esquerda” publicando recentemente (15/08/2017) em seu site um texto usando tal narrativa.
Agora lembremos que os nazistas também investiram pesado em teorias conspiratórias, mas adaptadas para a conjuntura do entreguerras, período de profunda frustração e angústia entre o povo alemão. Assim, puderam usar como bode expiatório a presença de figuras judias notórias no sistema financeiro internacional, bem como a presença em massa na Revolução Russa, associando-a com suas teses de que organizações judaicas conspiravam com traidores nas forças armadas, para provocar a derrota alemã na 1ª Guerra Mundial.
7 Tanto a direita conservadora quanto a liberal também podem ser antissemitas

Tal como hoje a direita desenvolveu uma ideia absolutamente tresloucada de um complô “globalista” orquestrado pelo judeu George Soros para implantar o comunismo, no início do século XX havia também discursos histéricos sobre um mesmo tipo de complô por parte dos judeus fomentado por capitalistas como Henry Ford[25].
A direita conservadora e ultraliberal econômica nos EUA também relacionava uma trama satânica dos judeus criando o Federal Reserve System, o que teria causado a Grande Depressão e levando o país a entrar em guerra contra a Alemanha. Tentaram derrubar o presidente Franklin Delano Roosevelt para implantar uma ditadura. Acusou-se mais tarde os judeus de conspirarem em sua ocupação nas instâncias do governo Roosevelt[26].
Figuras fundamentalistas religiosas como o pregador Charles Coughlin, o agitador conservador Gerald L. Smith e o Reverendo Gerald Winrood, eram personalidades atuantes que promoviam essas ideias, o que não impediu de serem cultuados na direita estadunidense. Não é mera coincidência com o contexto que vivemos hoje. Não só Flavio Morgenstern encontrou nestes círculos sua inspiração.
8 Acordos de Israel com nazistas e grupos de extrema-direita de inspiração nazifascista: Israel se odeia, logo é nazista?

Na Alemanha, vigorara o Acordo Ha’avara a partir de 1933. Foi um tratado firmado entre as autoridades econômicas do governo nazista, a Agência Judaica via o Banco Anglo-Palestino e a Federação Sionista da Alemanha.
Tratava-se de uma cooperação envolvendo importações de empresas alemãs, pagos com resgates de títulos que migrantes faziam na Palestina após deixar pago antecipadamente para empreendimentos colonizadores na região. Com este acordo, houve um mútuo financiamento entre sionistas – pessoas físicas e jurídicas (como a empresa de infraestrutura hidráulica “Mekoroth” e a grande empresa têxtil “Lodzia”)– e a economia alemã.
Vigorou até 1938 e gerou recursos primordiais para o estabelecimento do Estado de Israel – estimados em setenta milhões de dólares. Também foi crucial para a possibilidade da emigração judaica, dado que ainda em 1939 vigoravam regras estabelecidas pelo parlamento britânico, como a “White Paper”, limitando a entrada de judeus na área sob Mandato Britânico.
Israel também manteve estreitos laços de cooperação e suporte com o governo do Apartheid na África do Sul, inspirado na doutrina nazista.
Paira sobre Israel a sombra de um dos acontecimentos mais funestos do último quarto do século XX, mais precisamente quando o governo de Israel agiu em acordo com o Partido Kataeb, a Falange libanesa, partido de extrema-direita inspirado no nazifascismo[27].
O governo de Israel estava assustado com a investida diplomática da Organização para a Libertação da Palestina, que fizera concessões acentuadas para as Nações Unidas, cuja Resolução 242 deliberou pela devolução de todos os territórios tomados na Guerra de 1967 (veto único dos EUA). Em 1978, Yasser Arafat fez a seguinte declaração: “a OLP irá aceitar um Estado palestino independente consistindo na Cisjordânia e Gaza, com um corredor conectando-as, e nesta circunstância renunciará a todos os meios violentos para aumentar o território desse Estado. Irei reservar-me ao direito, naturalmente, de usar meios não violentos, isto é, meios diplomáticos e democráticos, para obter a eventual unificação da Palestina”. Em 1982, Issam Sartawi, do Conselho Nacional da OLP, proclamou que “a OLP concedeu a Israel, de maneira inequívoca, o direito de existir de forma recíproca”[28].
Israel viu nessa “ofensiva diplomática” uma ameaça maior do que quaisquer mísseis o seriam para suas intenções de expansões colonialistas. Passou a fazer provocações e atacou as bases da OLP no sul do Líbano, matando 200 civis, 60 em um hospital infantil[29].
A OLP enfim retaliou e matou… um israelense. Israel conseguira o pretexto que buscava: invadiu o Líbano e ocupou 10% da área. Ariel Sharon, que pouco antes já havia massacrado 69 civis na Jordânia, na aldeia de Qibya, reuniu-se com as lideranças da ditadura falangista de Bashir Gemayel, planejando com o comandante falangista Elie Hobeika a incursão por campos de refugiados palestinos[30].
Em 1982, realizou o Cerco de Beirute, e depois, um massacre impiedoso de milhares de refugiados desarmados em Sabra e Chatilla, em seu apoio a extremistas de direita sírios. Foram exterminados neste processo, entre palestinos e libaneses, cerca de vinte mil pessoas, quase a quantidade de judeus mortos até então em conflitos com árabes desde o começo do Estado de Israel[31].
Quando vieram à luz as revelações da participação do exército, cerca de 400 mil israelenses protestaram nas ruas. Ariel Sharon, então o ministro da defesa, foi levado a julgamento no Tribunal Internacional por crimes de guerra na Bélgica, mas o caso foi encerrado. Em 2001, foi eleito primeiro-ministro.
9 O mito dos EUA acolhedores dos judeus

Na “terra da liberdade” também vigoravam escandalosas políticas e sentimentos antissemitas. Políticas profissionais discriminatórias; cotas máximas de judeus em instituições de ensino públicas, perseguições, estigmatizações.[32]

O pesquisador Norman Finkelstein traz à tona que, durante os macabros períodos de perseguição macartista nos Estados Unidos (lembremos que o senador McCarthy foi contra a criação do Estado de Israel), quem ousasse fazer referências ao holocausto nazista poderia ser enquadrado em “militância comunista”.
Ironicamente isso também foi endossado por organizações de elite judaica conservadora, como a AJC e a ADL, as quais delatavam judeus de esquerda. O pretexto foi que grande parte da comunidade judaica apoiou o candidato progressista a presidente Henry Wallace (que fora vice-presidente no penúltimo mandato de Franklin Roosevelt), em 1948, ano oficial da criação de Israel. Estas organizações agiam junto com outras organizações conservadoras, como a All-American Conference to Combat Communism[33].
Enquanto isso, a partir de 1949, o Departamento de Estado dos EUA promove uma sorrateira tática extremamente perigosa: espalha criminosos de guerra ligados ao nazismo pelo mundo, para impedir ascensão de partidos de esquerda ao poder. A América Latina é um alvo especial. Reinhard Gehlen, um dos diretores da Frente Leste nazista na II Guerra, lidera uma rede de espionagem e sabotagem da Europa Oriental.
Um dos primeiros feitos desta rede foi promover um golpe de Estado na Grécia, alçando ao poder os conservadores que foram colaboracionistas dos nazistas (como o governo direitista de Phillipe Pétain, na França de Vichy) em um governo plutocrata com grande protagonismo de grupos envolvendo financistas estadunidenses e corporações empresariais gregas. Um governo que destruiu os sindicatos e promoveu torturas (com “campos de reeducação”), prisões e mortes políticas, com grande emigração de gregos[34].
Considerações finais
Devemos novamente enfatizar: A Questão Palestina não é uma questão de “islamismo versus judaísmo” (sendo que a Palestina é um local histórico de significativas comunidades cristãs ortodoxas e católicas, que chegaram a ser alvo em um plano de evacuação pelas forças sionistas almejando lhes enviar para a América do Sul, e a OLP também era integrada por muitos palestinos cristãos — Arafat era casado com uma), tampouco de “tradição do ocidente versus oriente”. Menos ainda sobre “de quem você gosta mais: judeu ou árabe?”. Estas são artimanhas retóricas amorais, cínicas, canalhas.
Na verdade é uma questão de Direitos Humanos, de justiça ambiental, de profundos valores e compromissos éticos pela dignidade humana independente de etnia ou nacionalidade, seja você de esquerda ou de direita. É uma postura moral pela reparação ante à maldade, nada banal, à espoliação, tortura, humilhação, colonialismo e apartheid a que os palestinos foram e são submetidos, do Nakba, dos bombardeios por armas químicas, como o super agressivo fósforo branco[35], até este momento em que estão lendo.
Israel bloqueia 35% das terras agricultáveis de Gaza e o limite para área de pesca é de três milhas náuticas, sendo que barcos de pescadores são alvos israelenses. Perto de 40% da população está na linha da pobreza, com quase 45% de desemprego[36]. A Cisjordânia também sofre: Israel retém os produtos de Ramallah, o posto de controle, por um dias e os perecíveis se perdem. Afora o domínio sobre os recursos fiscais. Israel se apropria das doações financeiras feitas pelas ajudas humanitárias e o converte em shekels, retendo-os no Banco de Israel, que lucra com a rentabilidade dos juros. O prejuízo fiscal da Palestina atualmente gira em torno de US$ 285 milhões[37].
Israel é livre de qualquer responsabilidade de indenização financeira à Palestina em processos internacionais. A autoridade palestina, por sua vez, é obrigada a ressarcir imediatamente Israel caso qualquer corte ou tribunal internacional a condene. O Conselho Palestino é excluído da jurisdição de Jerusalém, sob campos de refugiados, fronteiras, relações exteriores. Não tem jurisdição penal sobre qualquer cidadão israelense que comete um crime em território na Cisjordânia, nem a polícia poderia manter sob custódia. E em nome da “segurança”, Israel tem carta branca para perseguir qualquer palestino em qualquer lugar. Os palestinos têm jurisdição territorial sobre apenas 30% da Cisjordânia. E há diversas brechas, mesmo sobre eles, para Israel ter “direitos legais” obscuros. É como no governo de Transkei, no regime do Apartheid em 1963[38].
As quantidades anuais médias de abastecimento hídrico conferem 80% a Israel e 20% aos palestinos. Israel não reconhece aos palestinos a propriedade da água em seu território, apenas concessão de uso, reivindicando a propriedade para si com base em “uso histórico”. Israel desenvolve agricultura usando, por família, três vezes mais água do que uma família palestina por dia, vendendo a eles no preço total, forçando-lhes a comprar água pela limitação do volume lhes imposto, bem como o desenvolvimento e manutenção de infraestrutura para abastecimento[39].
A situação com Gaza é ainda bem mais criminosa. A gestão hídrica de Gaza, para o abastecimento e economia, é condenada a ser autossuficiente e unicamente dependente do aquífero dentro de suas fronteiras. A extração excessiva na Faixa de Gaza faz com que a água do mar e esgoto penetrem no aquífero; como resultado, 90% da água é considerada fracamente potável[40].
Há duas grandes reservas em Gaza, a Gaza-Marine-1 e 2, que foram abertos pela British Gas, cuja licença de exploração cobre toda a costa de Gaza — em continuidade com as instalações israelenses, mas 60% pertencendo à área palestina. Em seu período como primeiro-ministro, Ariel Sharon efetuou um bloqueio para a distribuição e fornecimento[41].
Em 2007, foi terminada a construção de um gasoduto via mar para o porto de Ashkelon, com Israel assumindo o controle da comercialização. O BG Group saíra e fechara o escritório em Israel. Mas um ano depois foi feito um acordo para a BG exercer a gestão da concessão do gás e Israel comprar dela. Israel integrou às instalações ao longo da costa pelo corredor que vai do porto de Eilat até o terminal e Haifa, interligando os trajetos e explorando o Campo de Meged, via a empresa Givot Olam[42].
O abuso praticado pelo Estado de Israel contra o povo palestino não é “pela fé”. Não é “pela democracia”. Não é “pelas liberdades civis”. Não é “pela sobrevivência do povo”.
Não deve haver brecha alguma no debate público para calhordas que usem como pretexto o maldito antissemitismo histórico para endossar suas posições grotescas. A dignidade vale muito mais do que isso. Se a situação fosse inversa, em que a opressão estivesse sendo exercida pelo Estado Palestino sobre o povo israelense, a posição moral e intelectual deveria se manter igualmente íntegra no engajamento pela justiça e equidade.
Israel não cumpriu o plano de partilha da ONU, invadindo terras palestinas.
Reconhecer esses problemas e se indignar com isso não torna ninguém antissemita, muito pelo contrário, revela nossa humanidade ao demonstrarmos empatia por aqueles que estão numa situação trágica e que precisam de ajuda. Dizer que isso é odiar Israel é uma falácia tão vil que apenas denuncia o mau-caratismo de quem a promove, prejudica inclusive a direita e os judeus solidários ao sofrimento palestino, como é o caso de parte dos conservadores nos EUA, relatado por Philip Weiss, e da organização de inspiração liberal Judeus pela Justiça na Palestina.
E sim, o nazismo é de extrema-direita, por mais que sofistas tentem negar com seus malabarismos. Não existe tal questionamento no meio acadêmico, na literatura especializada e na opinião pública do país que vivenciou o nazismo, a Alemanha. Não há paralelo entre o apelo do nazismo à solidariedade unicamente racial, seu ultranacionalismo e concepção de sociedade estratificada, com a solidariedade de classe e igualdade da esquerda socialista.
O nazismo é intrinsecamente anti-igualitário em sua crença mais profunda. Para este, a sociedade deve ser coesa, disposta numa ordem hierárquica, desigual, com o chauvinismo sendo utilizado como força de engrandecimento dos indivíduos, que seriam diminuídos sob noções de igualdade. Radicalmente avesso às ações políticas de enfrentamento à desigualdade social.
A postura dos que buscam se aproveitar do holocausto para negar isso mostra que permanecem comungando do mesmo espírito e racionalidade.
Para mim, não sois vós como os filhos dos Kushitas, ó filhos de Israel? — oráculo de Adonai. Acaso não tirei eu Israel da terra do Egito, os filisteus de Kaftor e Aram, de Qir?
Do Livro do Profeta Amós, 9:7.
Contribuição de Jorge Charon (itens 5 e 6).
Revisão de Jorge Charon e Itauã Brgc.
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